História

Sumário

        São Félix fica à margem direita do Rio Paraguaçu, a 110 km de Salvador. Surgida durante a expansão da cana-de-açúcar, a cidade possui uma história profundamente ligada aos valores culturais baianos. Marcada pelo desenvolvimento da indústria fumageira, com a instalação das fábricas de charutos Suerdieck, Dannemann, Costa Ferreira & Pena, Stender & Cia, Pedro Barreto, Cia A Juventude e Alberto Waldheis, além do cultivo do dendê e um forte comércio de estivas, secos e molhados. Também é conhecida por ter se destacado durante as lutas e mobilização social para a Independência da Bahia.

        Caminhar pelas ruas de São Félix é uma oportunidade para termos contato direto com o passado, com a época em que, à beira do rio Paraguaçu, saveiros transportavam os produtos do campo para a capital, movimentando o último porto que dava acesso à região das minas e do gado, no interior. A miscigenação entre os povos branco e o negro e a herança indígena fazem com que a cidade apresente uma característica sui generis ligadas às suas raízes ancestrais.

        Sua história data do período da chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, os primeiros contatos com os habitantes do país, os diferentes povos indígenas, aqui existentes. Quando aqui chegaram, nas atuais terras sanfelixtas, eram os indígenas da Nação Tupinambá que habitavam às margens férteis do Rio Paraguaçu. Em 1502, membros da expedição de Américo Vespúcio percorreram toda a costa da baía de Todos os Santos, entrando no grande rio que deságua na baía, passando pela Barra do Paraguaçu, estiveram em São Roque e navegaram rio acima. No ano seguinte, foi enviada expedição, que encontrou vários navios franceses carregados de madeira extraída das matas às margens do rio Paraguaçu, para serem levados para a Europa. Um ano depois, os franceses apoderaram-se da ilha hoje denominada dos franceses, internando-se com mais freqüência naquelas matas. Em 1510, chegaram às terras próximas a Maragojipe e subiram mais o rio chegando ao local onde foi a usina e engenho Vitória, aportando logicamente entre este ano e o ano seguinte 1511, às terras onde estão hoje as cidades de Cachoeira e São Félix.

        A cidade, no entanto, tem sua origem no aldeamento dos índios Tupinambás. Em 1534, esse aldeamento tinha cerca de 20 palhoças habitadas por mais ou menos duas centenas de índios. Com a chegada dos portugueses para explorar a terra e o comércio de madeira, tentaram escravizar os índios, forçá-los ao trabalho, iniciando a plantação de cana-de-açúcar, montagem de engenhos de açúcar e alambiques; entretanto a lavoura só prosperou com a chegada de escravos negros vindos da África, a partir de 1549, cuja entrada em terras sanfelixtas, só se deu em 1615.

        Os portugueses que se estabeleceram às margens do Rio Paraguaçu. formaram núcleos em Belém no alto do Porto da Cachoeira e em São Pedro Velho, no alto de São Félix. Marcaram presença os jesuítas que fundaram em Belém, distrito da Cachoeira, um colégio e um seminário ao lado da Igreja, existentes até hoje. Em São Félix, no lado oposto no alto de uma ladeira acerca de um quilômetro do porto, construíram também uma Igreja e uma Casa de Misericórdia, onde eram atendidos os doentes, daí, certamente, o nome do acesso àquele local, Ladeira da Misericórdia.

        Em 1624, a Bahia foi ocupada pelos holandeses, o Recôncavo foi saqueado e São Félix não escapou à tirania dos homens de Johan Van Dorth, que aqui cometeram os maiores crimes: saqueando lares e templos. A Igreja de São Pedro Velho e a Casa de Misericórdia no alto de São Félix, foram destroçadas e roubadas em todas as suas alfaias. Os portugueses, e os jesuítas certamente desgostosos e atemorizados, foram abandonando aquele local, onde as ruínas de uma Igreja e Casa de Misericórdia marcaram até há pouco tempo, a presença dos descobridores e colonizadores.

        Em 1822, durante as lutas pela Independência da Bahia, São Félix prestou relevantes serviços lutando ao lado de Cachoeira, à qual era vinculada administrativamente, e nesta luta o sangue sanfelixta banhou o solo em defesa do Brasil. Naquele lendário mês de junho, São Félix também se transformou numa praça de guerra, entrou em luta em prol de uma causa comum. Daqui partiram as canoas cheias de sanfelixtas denodados, atirando contra os déspotas lusitanos. Muitas embarcações foram estraçalhadas pela fuzilaria incessante da escuna portuguesa, tendo jazido muitos no Rio Paraguaçu. Acossados pelo fogo impetuoso, os portugueses enfraquecidos depois de decorridos quatro dias sangrentos, renderam-se confirmando a vitória patriótica!

        Outro fato marcante é o Movimento Federalista Popular. Embora D. Pedro I tivesse abdicado e se retirado para a Europa, o governo Regencial não propiciou a menor mudança ao regime político estabelecido com a Carta Constitucional de 1824. Acreditava-se que a solução seria o Federalismo, pela crença de que esse sistema daria às províncias maior autonomia administrativa que tanto lhes era negada pelo poder da corte do Rio de Janeiro. Era um federalismo que não era contra a forma monárquica. Esta aspiração política de quase todas as províncias eclodiu em 1832 na Bahia, com o primeiro levante liderado pelo Juiz de Paz, Bernardo Guanaes Mineiro, em São Félix.

        São Félix já era um povoado próspero com casas sobradadas e o comércio já desenvolvido com recursos para se manter. Na verdade, a qualificação de povoado era àquela altura uma ficção burocrática, e a 15 de dezembro de 1857, por ato assinado pelo presidente da província, João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu, criava-se a freguesia de Senhor Deus Menino e São Félix. Em termos de administração civil, porém, o povoado permaneceria. Em 1860, foram iniciados os primeiros calçamentos, de acordo com a resolução da Câmara de Cachoeira. São Félix viveria tempos de grande desenvolvimento. Município criado com os territórios das freguesias de São Félix (atual sede), São Pedro do Monte de Muritiba, Nossa Senhora do Desterro do Outeiro Redondo, Nossa Senhora do Bom Sucesso de Cruz das Almas, São Pedro do Aporá e de Nossa Senhora da Conceição do Sapé, desmembrados do município de Cachoeira, pelo Ato Estadual de 23.12.1889. A sede foi elevada à categoria de cidade através do Ato Estadual de 25.10.1890, com a denominação de São Félix do Paraguaçu, topônimo que se estendeu para o município, simplificado novamente para São Félix, por Decreto Estadual de 08.07.1931.

       O tombamento do conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico de São Félix, pelo iphan, ocorreu em 2010. A cidade – localizada no Recôncavo Baiano e banhada pelo rio Paraguaçu – ainda preserva uma relação compatível entre a ocupação urbana e a geografia da região, e mantém uma interação histórica, urbanística e paisagística com Cachoeira, situada na outra margem do rio. As duas cidades estão ligadas por uma ponte de ferro construída por ingleses e inaugurada por D. Pedro II, em 1859.

       Além do traçado urbano original se conservar praticamente intacto, pode ser identificada uma varivedade de edificações destinadas aos mais diversos usos (residenciais, religiosos, administrativos, industriais e de serviços) constituídos por casas térreas, sobrados, vilas operárias, igrejas, mercado, fábricas, armazéns, trapiches, entre outros. O traçado inclui o leito da ferrovia até a antiga estação ferroviária, a Ponte Dom Pedro II e a orla do rio. A arquitetura segue o estilo colonial, com prédios datados dos séculos XVII, XVIII e XIX.

       Chamada “Cidade Industrial” por ter sido a maior exportadora de charutos da República e, em função de tal avanço, foi beneficiada com a inauguração da antiga Estrada de Ferro Central da Bahia, em 1881. Também é conhecida por ter se destacado durante as lutas e mobilização social para a Independência da Bahia. Na Praça Inácio Tosta, está a casa onde morou o poeta abolicionista Castro Alves (1847 – 1871), autor do livro Espumas Flutuantes e que nasceu na vizinha cidade de Cachoeira.

        Igreja da Matriz de Deus Menino (arquitetura de fachada tipicamente rococó) e Igreja do Senhor São Félix (apresenta uma imitação da arte renascentista europeia), ambas construídas no final do século XVIII, Mercado Municipal, Estação Ferroviária, imóvel sede da Prefeitura Municipal, Casa da Cultura, e o Centro Cultural Dannemann, entre outros.

Fontes: Arquivo Noronha Santos/Iphan e IBGE

Área: 99,203 km²
População: 15 004 hab. IBGE/2013
Densidade: 151,25 hab./km²
Altitude: 45 m
Clima: Seco a subúmido

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